resumos // abstracts
comunicações orais
As terapias com recurso ao cão como estratégia de intervenção em pessoas com necessidades educativas especiais
Ana Rita Ferreira
Autor correspondente: anaritabgsf@gmail.com
Apresentação de um estudo sobre Terapias Assistidas por Cães realizado em 2013 e que teve como objetivo caraterizar estas intervenções terapêuticas e os seus efeitos, tendo para tal sido aplicados inquéritos. Esses questionários incidiram em quatro Perturbações do Desenvolvimento, o Autismo, a Síndrome de Asperger, a Síndrome de Down e a Paralisia Cerebral, foram aplicados a cuidadores e Profissionais de Saúde. Os inquéritos não foram submetidos à aprovação de nenhuma entidade pela falta de legislação que regulasse as TAA no nosso País, as questões eram de resposta maioritariamente fechada para tornar as respostas mais objetivas e facilitar o tratamento de dados, que foram avaliados numa escala tipo Likert e analisados qualitativamente. Os resultados apontam para a TAA como um método que promove a qualidade de vida desses indivíduos, com melhorias na sociabilização e humor, aumento da motivação, autonomia, determinação e desenvolvimento da sua organização cognitiva temporal e da fala, capaz de atender às suas necessidades e demandas específicas. Observou-se que a TAA estimula e promove a aprendizagem e a participação de indivíduos com Necessidades Educativas Especiais. No estudo são também focadas as características que os animais devem apresentar e os cuidados a ter com os mesmos. Este tipo de Terapia tem suscitado interesse pelos resultados que têm sido obtidos, e, como tal, a sua aplicação tem aumentado nas últimas décadas, encontrando-se, porém, num estágio inicial em Portugal.
​
//
​
A importância do vínculo entre humanos e animais de companhia na intervenção do Serviço Social
Catarina Medalha
Autor correspondente: catarina.medalha@gmail.com
A comunicação que aqui se propõe baseia-se num trabalho de investigação que culminou numa dissertação de Mestrado, publicada em novembro de 2017, que procurou explorar a realidade de indivíduos que vivem com um companheiro animal com o qual estabeleceram um vínculo significativo para as suas vidas. Na pesquisa, pretendeu-se estudar essa ligação e, ao mesmo tempo, apresentar um panorama sobre o seu impacto na intervenção com estas pessoas, bem como possibilitar uma reflexão sobre o papel do assistente social nessas situações. Os resultados obtidos mostram com evidência o importante papel do animal na vida dos sujeitos de atenção, com peso em várias dimensões das suas vidas que afetam o seu bem-estar e foram recolhidos através de entrevistas sem-estruturadas a sujeitos de atenção. Para além disso, reflete-se sobre um sistema de proteção social excludente perante estas famílias e sobre a falta de adequação e de preparação nas respostas, serviços e estruturas e falta de informação por parte dos profissionais. Posicionamo-nos de acordo com uma perspectiva ecológica e teoria sistémica, na medida em que cada facto social significativo na vida de um indivíduo é produto de forças sociais, de pressões e de recursos que vêm do meio e que atuam sobre a pessoa, sendo que certas forças a reforçam, enquanto outras podem provocar situações de stresse (Weber, 2011). Consideramos a abordagem sistémica essencial para compreender plenamente o significado dos vínculos com animais de companhia, considerando-os em relação aos processos dinâmicos dentro dos sistemas familiares e incorporados em sistemas sociais complexos.
​
//
«Tamed Alterity»: Animal materials and their symbolic values in the artistic market between Asia, Africa and Portugal, 1450-1650
Francesco Gusella
Italian Institute of Oriental Studies (ISO), Sapienza University of Rome, Italy
Autor correspondente: francescogusella@hotmail.it
The 12 of May 1514 a ship from Lisbon carried in Rome an extraordinary menagerie of exotic animals: two leopards, one panther, several parrots, turkeys, and a rare albino elephant named Hanno. The shipping was part of a diplomatic gift by Manuel I of Portugal to Pope Leo X. The arrival of this «outsize pet»in Rome symbolically inaugurated the beginning of a new age on a global scale.
In recent years, art historians have extensively investigated the trade of luxury goods between Asia, Africa, and Europe in the early Modern age. Among the several aspects of this phenomenon, the presence of animal-derived materials, although predominant, has not sufficiently considered under the symbolic perspective. Ivory, mother-of-pearl, coral, turtle shell, rhinoceros horn and antelope antler, were widely used in the creation of secular and religious artifacts. The consistent flow of these materials articulated the exotic taste of the Renaissance courts, involving both the natural and the spiritual spheres. Rather than mere taste, exoticism conveyed preexisting cultural values, such as universality, regality, spirituality, rarity, through new artistic media. This study wants to offer a cultural perspective on the materials of animal origin in the artistic market linking Portugal, Africa, and Asia in the Sixteenth century. It will show how these precious materials played a pivotal role in «domesticating»the wilderness emerging from the «Great Discoveries»as well as expanding the European venture out of its traditional «home».
​
//
ONG como mediadores das relações entre humanos e não-humanos: o caso da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal
Henrique Tereno
Autor correspondente: htereno@gmail.com
O escopo das relações entre humanos e animais não-humanos de companhia é vasto e multifacetado, tendo repercussões em vários domínios sejam eles da esfera política, económica, científica ou social. Dentro deste vasto escopo encontram-se as Organizações Não Governamentais (ONG). Estas organizações detêm um papel de extrema relevância a desempenhar na mediação das relações entre humanos e animais de companhia. O número crescente deste tipo de organizações demonstra uma preocupação exponencial para com o bem-estar dos animais que coabitam com os seres humanos. O carácter mediador que estas organizações têm é crucial para a melhoria destas relações, pois possibilita uma ponte de comunicação entre a população e as entidades oficiais que elaboram as leis que estipulam a natureza sobre as quais estas relações devem ser regidas. Parto da análise do caso concreto da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal onde, através de um trabalho de campo de cariz etnográfico, foi-me possível observar in situcomo é que estas organizações operam, quais as suas principais preocupações e como é que as suas ações e dificuldades se traduzem na relação entre humanos e animais de companhia.
//
​
Entre laços e gravatas: reprodução de identidade de gênero na relação entre humanos e animais de estimação
Juliana Abonizio[1], Eveline Baptistella[2] & Susana Costa[3,*]
[1] Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea, Universidade Federal de Mato Grosso – Campus de Cuiabá – Brasil; [2] Departamento de Jornalismo da Universidade Estadual de Mato Grosso – Campus de Alto Araguaia, Brasil; [3] Centro de Administração e Políticas Públicas, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Pólo Universitário do Alto da Ajuda, Portugal.
*Autor correspondente: susanagkosta@gmail.com
A categoria pet, maioritariamente ocupada por cães e gatos, implica um tipo de relação afetiva e confusão das fronteiras interespecíficas implicando ainda um mercado. Ao serem considerados indivíduos e parte da família, os petssão alvo de projeções de gênero. Para compreender a construção da identidade de gênero dos petspor seus tutores e pelo mercado que lhes é direcionado, realizamos observação e conversas informais a partir da Sociologia do Cotidiano com tutores e profissionais em 4 estabelecimentos comerciais do ramo localizados na capital mato-grossense selecionados pelo porte e fizemos uma classificação dos objetos dirigidos aos animais de acordo com o gênero. Para fins comparativos, elencamos produtos de uma loja virtual que confirmou a tendência encontrada nas lojas físicas. A pesquisa foi realizada entre 2015 e 2017 como parte do projeto O lugar social dos animais na sociedade contemporânea. Através dos dados construídos, observarmos como os objetos e os discursos refletem as expectativas dos tutores dos atributos de masculinidade e feminilidade dos animais tutelados numa concepção binária de gênero. Os produtos dirigidos às fêmeas destacam-se pela predominância da cor rosa, laços, presilhas, vestidos e saias, já para os machos, predominam gravatas, roupas com motivos de futebol ou de profissões ocupadas tradicionalmente por homens, como policial, bombeiro e segurança.
//
​
Os cães na história da cidade: o caso de Lisboa
Inês Gomes
Centro Interuniversitário de Histórias das Ciências e da Tecnologia; Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Autor correspondente: gomes.ida@gmail.com
A história urbana é, geralmente, descrita em oposição às áreas naturais que envolvem as cidades. Todavia, a natureza é determinante no desenvolvimento urbano, nomeadamente por conceder recursos naturais que suportam a vida citadina. Apesar dos movimentos, particularmente, da segunda metade do século XIX, que fomentavam uma «reconciliação»da natureza e das cidades, estimulando a criação de jardins públicos, como forma de trazer o ar fresco do campo e condições mais saudáveis para o espaço da cidade, o desenvolvimento da urbe moderna levou à necessidade de lidar com a coabitação de animais humanos e não-humanos. A natureza pode, também, desempenhar um papel destrutivo e dramático, ameaçando a ordem urbana e as vidas humanas. Os cães ilustram esta dualidade, sendo, ao mesmo tempo, habitantes da cidade, amigos fiéis, mas, também, animais propensos à raiva, um perigo para a saúde pública. Na Lisboa do século XIX, o debate sobre cães e raiva não questionava a existência de um problema que urgia uma reacção rápida. No entanto, a opinião dividia-se quanto à forma como se deveria lidar com os cães. Se os cães eram um perigo para os homens, com a criação da Sociedade Protectora dos Animais, em 1875, os homens passariam, também, a ser um perigo para os cães. A comunicação que aqui se apresenta tem por objectivo identificar e descrever alguns dos factores e actores envolvidos nas polémicas que se debruçavam sobre cães, humanos e a gestão do quotidiano de Lisboa no sentido de extinguir ou limitar a raiva.
​
//
Maus tratos a animais e a correlação com a violência contra pessoas
Inês de Sousa Real
Jus Animallium – Associação de Direito Animal
Autor correspondente: inesreal6@gmail.com
Completam-se este ano quatro anos desde que entrou em vigor a Lei n.º 69/2014, de 29 de agosto, que veio introduzir novos tipos de crimes no nosso Código Penal – os crimes contra animais de companhia (maus tratos e o abandono).
Mais recentemente, assistimos também a uma alteração muito significativa no Código Civil, através da Lei n.º 8/2017, de 3 de Março, que estabeleceu um estatuto jurídico próprio dos animais.
Apesar da inegável ascensão dos animais no nosso ordenamento jurídico, a reflexão sobre a relação entre a violência exercida contra pessoas e animais tem sido bastante tímida, ainda que se vá apontado para a sua conexão com outros tipos de violência, nomeadamente com a violência doméstica, contra crianças, mulheres, idosos ou quaisquer outras formas de violência interpessoal.
Em contraposição com Portugal, vários estudos realizados noutros países têm vindo a demonstrar esta ligação, sendo um sinal de que mulheres, crianças e idosos possam estar a ser vítimas de violência no seio familiar, precisamente quando se inicia, em muitos lares, os abusos cometidos contra os animais.
O que se propõe com a presente reflexão é trazer ao debate uma imagem mais completa e multidisciplinar da natureza da crueldade para com os animais e a sua relação com a escalada de violência contra pessoas e saber em medida é que uma alteração da lei pode ajudar a combater estes fenómenos de violência, sem menosprezar que, a par de outros crimes contra a sociedade, também devem ser encarados como um importante problema de saúde pública.
​
//
Mudanças nas práticas de gestão de populações animais urbanas no Brasil
Letícia Dias Fantinel
Departamento de Administração, Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
Autor correspondente: leticiafantinel@gmail.com
Esta comunicação tem por objetivo discutir mudanças nas práticas de gestão de populações animais em contextos urbanos no Brasil. Trata-se dos resultados preliminares de um estudo em andamento a partir do qual, com o uso da etnografia multiespécie, a autora vem acompanhando os trabalhos de um órgão de controle de zoonoses em uma capital da região sudeste do país.
Do ponto de vista da gestão pública, são muitas as questões implicadas quando se fala em animais que vivem nas ruas, especialmente aqueles considerados domesticados: têm-se problemas de saúde pública, uma vez que muitos desses animais se tornam vetores de zoonoses como a raiva e a leishmaniose; tem-se um grande custo financeiro, social e emocional ao abrigar e tratar ou mesmo praticar eutanásia nesses animais, nem sempre podendo-se contar com materiais, medicamentos e mão-de-obra necessários; além disso, cabe lidar com o alto grau de sofrimento desses animais, que chegam aos abrigos em situações muito precárias. No Brasil, em que se estima a existência de cerca de 30 milhões de animais abandonados nas ruas, urge discutir-se esse tópico, especialmente sob o prisma da gestão. Não obstante, cabe destacar que, embora apresente avanços em âmbito legal, o país ainda tem deficiências no que diz respeito à prática, como mostra este estudo. Recentemente, a legislação brasileira que trata de ações e serviços de saúde voltados para vigilância, prevenção e controle de zoonoses sofreu alterações, o que demandou reconfigurações nas práticas de manejo de animais nas cidades, como a captura e a eutanásia, por exemplo.
​
//
​
Colónias de humanos e colónias de gatos – confluências interespécies que dissipam barreiras na espécie
Bianca Santos
Autor correspondente: bianca.giselle@gmail.com
A esterilização de colónias de gatos visa o controlo populacional e a concretização do seu bem-estar, combatendo a problemática do abate dos animais e com o benefício da melhoria significativa das suas condições de saúde, apesar da sua desnaturação. Foi necessário aplicar, com urgência, o programa Capturar-Esterilizar-Devolver em 2017 a uma colónia descontrolada com cerca de 20 animais, maioritariamente gestantes, doentes e subnutridos, por viverem numa área perigosa e insalubre, de difícil acesso e inserida numa comunidade nómada de Romenos, instalada numa zona de Lisboa, que a alimentava, apesar dos incómodos que lhes causavam. Na estratégia definida para a intervenção (baseada em experiências anteriores noutras comunidades, ainda que sem barreiras linguísticas), foi fundamental estabelecer primeiro uma relação de confiança com o grupo étnico, apesar da desintegração nos parâmetros sociais geralmente impostos e os preconceitos da população originária. Esta relação implicou encontrar expressões e gestos que permitissem uma comunicação alternativa mínima, facilitada pelo interesse comum no foco de intervenção. Conseguido um entendimento, a comunidade nómada sentiu-se impelida a participar nas intervenções, com notório interesse e entusiasmo, contribuindo para o sucesso da acção. Foi possível durante cerca de 6 meses tratar, diminuir e esterilizar a colónia de gatos, que se revelou maior que inicialmente previsto (aproximadamente 50 animais). Este caso veio demonstrar como os animais na rua, frequente fonte de conflito e discórdia na população em geral, conseguem integrar-se sem discriminação, ser um eixo de intervenção que permitiu a dissipação de barreiras interespécie, bem como intraespécie, pela acção paralela numa comunidade marginalizada.
//
«Pets» e «food animals»: afetos e desafetos culturalmente condicionados
Rui Pedro Fonseca
Centro de Investigação de Estudos em Sociologia – Instituto Universitário de Lisboa
Autor correspondente: fonsecarppd@hotmail.com
As diferenciadas classificações das distintas espécies enquanto «animais de companhia» ou «animais para consumo» são continuadamente sedimentadas, reforçadas, e manifestamente inquestionadas, por meio das padronizadas representações e práticas previstas na cultura dominante. Os mecanismos exploratórios, a morte, fragmentação e consumo de algumas espécies implicam práticas (humanas) opostas quando comparadas às exercidas nas convencionadas espécies de companhia – as quais devem ser respeitadas, cuidadas, individualizadas e, confortavelmente, integradas no nosso quotidiano. No entanto, consumir algumas espécies e cuidar de outras consistem comportamentos desfasados que podem ser enquadrados, e analisados, na sua dimensão hierarquizante e discriminatória. Estas práticas culturalmente condicionadas (designadamente pela televisão portuguesa) não sucedem porque existam determinadas espécies mais sencientes que outras – mas porque as nossas perceções (e afetos) apresentam um carácter diferenciado. Os (des)afetos jogam, aliás, um papel central na manutenção das relações que mantemos com os animais que consumimos ou que cuidamos.
Partindo da apresentação e análise de um trecho de um episódio de um concurso alimentar (MasterChef, TVI), pretende-se expor e discutir alguns dos fatores que desempenham um papel central nos processos de sedimentação, ou mesmo questionamento, das nossas perceções, afetos e práticas diferenciadas em relação aos «pets» versus «food animals».
​
//
Animais de companhia: «man-animals»? O dilema ético em torno das relações homem-animal [de companhia]
Sandra Teixeira do Carmo
Instituto Jurídico, Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Autor correspondente: sandrateixeiracarmo@hotmail.com
A primeira questão que nos interpela quando tratamos do modo como nos relacionamos com os animais de companhia é a de saber «o que são os animais de companhia?». O modo como a questão é formulada – dirigindo-se a estes animais como uma realidade fundamentalmente funcionalizada e esvaziada de sentido e autonomia próprios – traduz a ambiguidade e o incontornável dilema ético que subjazem à sua existência.
E. Leach refere-se aos animais de companhia como «man-animals», uma categoria ambígua e intermédia entre os animais humanos e os demais animais. Na verdade, os animais de companhia não são animais selvagens, mas também não são (apenas) animais domésticos. Contudo, este eventual «maior valor»que se lhes possa reconhecer decorre da relação – verdadeiramente (da) funcionalização – que mantêm com os seus detentores e não é, pois, um valor que lhes seja intrínseco. Não permite, assim, responder à questão relativa a qual seja o seu estatuto moral (são meios para ou fins em si mesmos?) e contribui decisivamente para a manutenção do modelo antropocêntrico que, nos quadros da nossa civilização, sempre presidiu às relações que estabelecemos com os animais não humanos.
O desafio que nos propomos neste artigo é o de discutir – por referência a estes animais – a importância de um descentramento ético que permita uma consideração niveladora dos interesses e problemas (tidos como) exclusivamente humanos e aqueles que são próprios dos demais animais que connosco partilham esta existência terrena e os seus mais elementares e importantes suportes.
//
Escala(s) sociozoológica(s): uma comparação entre representações sociais portuguesas e brasileiras dos não-humanos de companhia
Susana Costa[1,2,3,*], Eveline Baptistella[4], Juliana Abonizio[5] & Catarina Casanova[1]
[1] CAPP – Centro de Administração e Políticas Públicas, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, Portugal; [2] Escola de Ciências Naturais, Divisão de Psicologia, Universidade de Stirling, Stirling, Escócia (Reino Unido); [3] Associação Portuguesa de Primatologia; [4] Departamento de Jornalismo, Universidade do Estado de Mato Grosso, Brasil; [5] Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil.
*Autor correspondente: susanagkosta@gmail.com
O modo como percepcionamos as restantes espécies divide-se simbolicamente em «bom»e «mau»animal. Enquanto que, de um ponto de vista filogenético, os não-humanos são classificados e organizados de acordo com as suas características e afinidades biológicas, as escalas sociozoológicas categorizam as espécies em função do papel desempenhado pelas mesmas no contexto social em que são percepcionados. Por exemplo, nas sociedades ocidentais – particularmente nas áreas urbanas – os animais de companhia, são vistos como cidadãos «decentes»e consequentemente «bons». Nestes contextos, gatos e cães (os não-humanos de companhia mais comuns) são geralmente tidos como membros da família. Porém, existem excepções que fazem com que o seu estatuto de «bons»animais seja abalado, podendo atirar com estes não-humanos do topo da hierarquia sociozoológica para a sua base. Esta comunicação irá estabelecer uma comparação do estatuto sociozoológico de gatos e cães em dois contextos sociais distintos: o português e o brasileiro. Os dados foram recolhidos entre 2004 e 2013, com base num inquérito de opinião aplicado em Almada (n=120) e com base em pesquisa etnográfica e entrevistas em profundidade aplicadas em Cuiabá. Os dados sugerem que, apesar das grandes diferenças sociais – relacionadas sobretudo com a grande proximidade com espécies selvagens que habitam o espaço urbano de Cuiabá – a dualidade bom vs. mau encontra-se patente de modo evidente nos não-humanos de companhia em ambos os cenários. Factores comportamentais, emocionais, utilitários e estéticos estão na base das classificações atribuídas a gatos e cães, independentemente da origem cultural das duas amostras.
//
«Olá donos, cá estou eu»: impacto da adoção de cães nas rotinas e funcionamento familiar
Teresa Brandão* & Cristina Espadinha
Universidade de Lisboa, Faculdade de Motricidade Humana, Dep. Educação, Ciências Sociais e Humanidades, Centro de Estudos em Educação – UIDEF
*Autor correspondente: teresabrandao@gmail.com
Cada vez mais, os cães são considerados como membros da família e importantes oportunidades para interações sociais reunindo a família, mas aumentando também as oportunidades de socialização com novas pessoas. São excelentes companheiros das crianças, sendo que algumas delas os consideram quase como colegas, falando com eles e incluindo-os nas atividades diárias. As evidências atuais sugerem que a posse de animais pode ser benéfica para o desenvolvimento emocional, cognitivo, comportamental, educacional e social da criança, do adolescente para além dos benefícios já demonstrados nos adultos. A adoção de cães é um fenómeno em expansão, tanto a nível internacional como nacional, cujo impacto nos indivíduos e nas famílias está ainda pouco estudado. No presente estudo, cujo objetivo consiste em estudar o impacto da adoção de cães em famílias, nomeadamente nas rotinas e funcionamento familiar, foram enviados 200 questionários para residentes na zona de Lisboa, que adotaram recentemente um cão. A recolha de dados encontra-se em curso e serão verificadas, entre outras, relações entre variáveis como: composição do agregado familiar, caracterização dos seus membros (idade, género), tipologia das famílias bem como aspetos relacionados com o cão (idade, temperamento, participou em treino específico), e as rotinas e o funcionamento familiar.